Em tempos em que o futebol domina quase todas as conversas, expressões como "vestir a camisa", "atuar como um time" ou "formar uma equipe vencedora" deixam o espaço dos gramados e das arquibancadas e integram também o vocabulário corporativo. A analogia com o esporte mais popular do mundo busca exemplos de práticas motivacionais que garantam um grupo unido e capaz de alcançar grandes resultados.
Fazer com que os empregados "vistam a camisa" é a promessa de uma nova ferramenta que começa a ser utilizada no Brasil: o Endoacting. De acordo com a diretora da Sias Educação e Consultoria, Jacqueline Rezende, o Endoacting faz com que os colaboradores pensem como donos do negócio, mas isso depende de algumas ações para sua eficácia, como o desenvolvimento de um plano de comunicação interna e a realização de um diagnóstico da pesquisa de clima com foco em estratégia organizacional.
"O Endoacting surgiu nos Estados Unidos como uma resposta à crise que começou em 2008. Grandes empresas perceberam a necessidade de implementar mudanças para aproveitar ao máximo a mão de obra, mas para isso era preciso trazer comprometimento. A metodologia do Endoacting permite a implantação de mudanças dentro da organização minimizando a resistência. Não existe um choque de cultura, mas sim uma mudança planejada que prima por empoderar com responsabilidade todos os envolvidos, por isso ela é aplicável a empresas de todo os portes e setores", explica Jacqueline.
Para a especialista, a ferramenta ainda é pouco aplicada no Brasil por fatores culturais. A dificuldade de lidar com mudanças e de compartilhar decisões ainda são traços fortes na cultura empresarial do país. A situação é agravada, ainda segundo ela, por uma legislação pouco flexível. "O empresário brasileiro, seja ele dono ou alto gestor, ainda faz a empresa para ele, partindo dos seus próprios princípios. Nossas escolas ainda não se preocupam com as competências comportamentais e nossas empresas também não se esforçam para desenvolvê-las. Nesse cenário, é muito difícil motivar alguém, fazer com que se veja pertencente a um grupo. Sem reconhecimento não existe motivação", alerta.
A estratégia de mudança pode começar a partir de pequenos projetos. O importante é que exista envolvimento. Para isso a delegação precisa ser planejada com empoderamento, responsabilidade e preparo. Também é necessário instituir metas, realizar boas avaliações, instituir políticas de remuneração variável e dar o retorno das ações aos empregados destacando acertos, desafios, resultados e dificuldades. "O envolvimento da alta gestão é fundamental. A equipe tende a ser o espelho do seu gestor, e se ele não compra a ideia, dificilmente a equipe vai se envolver. O Endoacting é uma ferramenta de aculturação, portanto permanente. Quando conseguimos mudar o pensamento, consequentemente, mudamos as ações".
Outra grande dificuldade é a falta de comunicação entre os setores. As pessoas conhecem pouco o que os colegas fazem e, via de regra, pensam sempre que trabalham mais do que o outro. Por isso é importante montar equipes multidisciplinares para dar visibilidade ao todo, tornando possível montar um time em que todos vistam a camisa. "Os pilares da ferramenta são compartilhamento, planejamento, transparência, comunicação e flexibilidade", complementa Jacqueline.