Uma das principais dificuldades das empresas brasileiras na internacionalização são os altos custos e os riscos. Segundo o presidente do Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras (CECIEx), Roberto Ticoulat, para uma empresa montar uma seção especializada em comércio exterior deve gastar no mínimo entre R$ 300 e R$ 400 mil por ano.
O especialista colocou que "as tradings e as comerciais exportadoras são as melhores opções, em todo tipo de negócio se tem uma intermediária, alguém especializado para fazer bem aquilo que não é o foco da empresa". As comerciais importadoras e exportadoras são especialistas para as empresas de menor porte, que de acordo com Ticoulat, são as que mais sofrem na hora de vender ou comprar fora do País.
Para o coordenador da Unidade de Projetos especiais da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex - Brasil), Maurício Manfrê, o empresário que contrata uma empresa comercial exportadora tem como vantagem um custo variável, que ocorre por operação de venda. O presidente do CECIEx estima que o custo de pequena operação via comerciais exportadoras seja de cerca de 5%.
Para ele, a internacionalização será imprescindível para todas as empresas no futuro. Atualmente 1% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil é formado por transações feitas com o mundo. Em 2020 o PIB mundial será 70% formado por transações externas. " O Brasil é extremamente fechado e não consegue ver suas vantagens comparativas, o câmbio uma hora está valorizado e outra hora desvalorizado, não há uma política de governo para ampliar as vendas externas", completou.
O representante da Apex chama a atenção para o fato de que o órgão não incentiva a importação e porque muitas vezes o governo reage negativamente a qualquer tipo de incentivo a entrada de produtos estrangeiros. "Grandes grupos empresariais nacionais pensam que internacionalizar é levar empregos para fora do País, então importação virou palavra maldita", disse.
Sobre a política de comércio exterior atual, o presidente do CECIEx criticou duramente os rumos do Mercosul. "Não funciona, além dele não ter evoluído ele atrapalha o Brasil, está claro que a gente tem problemas. Se o País não trabalhar com acordos bilaterais vamos ficar fora do mercado", completou.
Uma outra crítica feita pelo especialista foi ao projeto das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs) que é "o maior dinheiro jogado fora, já que foca em um projeto de desenvolvimento regional e não comercial", disse. Além disso, ele ressaltou que não existe mais razão de montar uma ZPE depois que inventaram a nota fiscal eletrônica.
Ticoulat colocou que a questão do câmbio pode ajudar as exportações brasileiras a ficarem mais competitivas mas acredita que em três meses a alta da moeda americana deve chegar aos custos de produção, devido a compra de insumos importados que ficaram mais caros. A passagem para o preço final, no entanto, não deve ocorrer tão diretamente. Segundo o especialista, a maioria das empresas tanto internacionais que vendem insumos para o Brasil, como exportadoras, já fixou seus preços.
Governo
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, avaliou ontem, que o câmbio no País está "ótimo". Depois de participar, com a presidente Dilma Rousseff, de evento para anúncio de recursos para cidades históricas, Pimentel indicou que o governo deve atuar no mercado cambial apenas para manter o atual patamar. "Quando o dólar estava barato, reclamavam que a indústria estava mal. Agora que o dólar subiu, vão reclamar também? Acho que está ótimo. Estamos chegando no ponto que precisa", disse.
De acordo com o ministro, as recentes baixas do real diante da moeda norte-americana colaboram para o País e "nossa indústria" voltarem "a ser competitivos". "E isso é importante", salientou Pimentel, que descartou alta na inflação por causa do câmbio.