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Em meio a guerra e alta dos combustíveis, BC deve elevar juro ao maior nível em 5 anos, prevê mercado

Comitê de Política Monetária do BC se reúne nesta quarta (16) para fixar taxa básica de juros. Expectativa é de um aumento de 1 ponto percentual, que elevaria a taxa de 10,75% para 11,75% ao ano

Em meio à guerra na Ucrânia e à disparada nos preços dos combustíveis, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil se reunirá nesta quarta-feira (16) para definir a taxa básica de juros da economia. A decisão será anunciada após as 18h.

A expectativa da maior parte dos economistas do mercado financeiro é que a Selic seja elevada dos atuais 10,75% para 11,75% ao ano, o maior patamar desde abril de 2017 — quando estava em 12,25% ao ano. Ou seja, em quase cinco anos.

Entretanto, alguns analistas apostam que a taxa possa subir ainda mais nesta quarta-feira, ultrapassando o patamar de 12% ao ano.

Se confirmado, esse será o nono aumento seguido na taxa básica da economia. Ao mesmo tempo, também representará um ano do atual ciclo de alta dos juros. O processo de elevação da taxa Selic teve início em março do ano passado.

O mercado financeiro espera novas altas na taxa Selic nos próximos meses. A previsão é de que os juros básicos subam para 12,5% ao ano no começo de maio e para 12,75% ao ano em meados de junho — patamar no qual terminaria 2022.

Como a taxa Selic é definida

A taxa básica de juros é o principal instrumento do Banco Central para conter o aumento de preços.

Quando a inflação está alta, o BC eleva a Selic. Quando as estimativas para a inflação estão em linha com as metas, o Banco Central reduz a Selic.

Em 2022, a meta central de inflação é de 3,5% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2% a 5%. O mercado financeiro, porém, já prevê a inflação acima dos 6% em todo este ano devido ao

As decisões sobre a taxa de juros demoram de seis a 18 meses para terem impacto pleno na economia. Com a meta de inflação de 2022 praticamente estourada, o BC começa a calibrar a taxa de juros cada vez mais mirando o ano de 2023.

Para o próximo ano, o mercado financeiro estima uma inflação de 3,70%. Para 2023, a meta de inflação foi fixada 3,25%, e será considerada formalmente cumprida se oscilar entre 1,75% e 4,75%.

O que dizem analistas

De acordo com relatório assinado por Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, o impacto direto da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre a economia brasileira tende a ser restrito, considerando as relações comerciais limitadas entre o Brasil e os dois países.

Entretanto, Mesquita avaliou também que os principais efeitos serão indiretos, via aumento dos preços internacionais de "commodities" (bens básicos, como petróleo e alimentos), bem como impactos sobre o PIB global, com desaceleração.

Além do petróleo, segundo o economista, a guerra também deve gerar elevação do trigo, do milho, e dos minerais metais, entre outros. "Os preços mais altos das 'commodities' pressionarão a inflação adiante", explicou.

Caio Megale, economista-chefe XP, observou que, além da alta das "commodities", os dados de inflação mais recentes "continuam rodando em níveis bastante elevados". Além disso, segundo ele, os números da atividade econômica sugerem uma demanda por produtos e serviços um pouco melhor do que o esperado anteriormente.

Por outro lado, o analista notou que o dólar tem recuado, diminuindo pressões inflacionárias, e que os reservatórios de água continuam em bons níveis, confirmando que os preços da energia elétrica devem cair ao longo do ano.

"Tudo considerado, os membros do Copom provavelmente estão agora mais preocupados com as perspectivas de inflação do que estavam em sua última reunião", concluiu Megale, em comunicado.

André Perfeito, economista-chefe da Necton, avaliou que a forte alta na previsão do mercado para a inflação deste ano, para 6,45%, divulgada nesta segunda-feira (14), é resultado da elevação dos preços de combustíveis.

Porém, acrescentou que também "há desconforto sobre a trajetória fiscal [gastos públicos] que segue incerta na medida que não se sabe exatamente o que o governo irá fazer para mitigar as altas nos combustíveis".

Apesar da pressão de caminhoneiros, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou na semana passada que o governo pode estudar a criação de um subsídio ao diesel somente se a guerra entre Rússia e Ucrânia se prolongar.

Consequências da alta dos juros

De acordo com economistas, o aumento do juro básico da economia, para conter a inflação, tem vários reflexos na economia. Entre eles, estão:

  • Aumento das taxas bancárias, e a tendência é que novos aumentos também sejam repassados aos clientes. No ano passado, a elevação do juro bancário foi o maior em seis anos.
  • Influencia negativa no consumo da população e nos investimentos produtivos, impactando negativamente o Produto Interno Bruto (PIB), o emprego e a renda. Na semana passada, analistas projetaram uma expansão de 0,49% para este ano, contra um crescimento de 4,6% em 2021.
  • Gera uma despesa adicional com juros da dívida pública. No ano passado, com a elevação da Selic e da inflação, os gastos com juros foram os maiores em seis anos. E a expectativa de economistas é de que essa despesa deve bater recorde em 2022.
  • Aplicações em renda fixa, como no Tesouro Direto e em debêntures, passam a render mais. Leandro Vasconcellos, CFP®️, Head da mesa de alocação Alta Renda e sócio da BRA, avaliou que, em momentos como esse, vale apostar em títulos atrelados à inflação e títulos pós-fixados (indexados à Selic).
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